Pecuarista de Rondônia aposta em parto gemelar de olho na valorização do bezerro

Foto por: Divulgação

Agronegócio

04/05/2021 às 06:54

Na Fazenda Santo Antônio, propriedade do engenheiro agrônomo e pecuarista Carlos Freitas localizada em Ji-Paraná, Rondônia, um bezerro é pouco e dois bezerros está bom demais! A propriedade aposta desde 2010 em um programa de reprodução que incentiva o parto gemelar para aumentar a massa corporal de bezerro nascida e desmama por vaca exposta à reprodução de olho na valorização dos animais de cria. E nesta segunda-feira, dia 03, o produtor esteve no estúdio do Giro do Boi para falar a respeito do sistema.

Segundo Freitas, a técnica é mais normalmente usada em rebanhos leiteiros, mas tem uma demanda potencial muito maior para o gado de corte com a popularização da pecuária intensiva. “Então em 2010 nós iniciamos. Nós iniciamos com 35% de índice de fertilidade, em dois anos pulamos para 42% e hoje estamos com 67% do nosso rebanho com parição gemelar”, revelou o criador.

Conforme assegurou o produtor, a técnica não é complexa, sendo que as principais exigências ocorrem depois da gestação – um manejo sanitário adequado e manejo nutricional que viabilize a desmama de um bezerro pesado. “A técnica em si não é tão minuciosa. […] Nós trabalhamos com uma genética direcionada ao gemelar e o nosso diferencial é o manejo. Nós desenvolvemos protocolos específicos para o parto gemelar e esse índice veio crescendo ano a ano. Hoje tanto a nossa equipe de campo quanto a nossa equipe está com foco totalmente voltado para essas questões”, disse Carlos.

O pecuarista justificou a razão de ter direcionado seu sistema reprodutivo para o parto gemelar. “Antes da vantagem, eu vou falar um pouco da necessidade. Em virtude do abate constante de fêmeas e da demanda por bezerros, o preço do bezerro hoje alcançou patamares bastante significativos. E eu como pecuarista preocupado, focado nessa questão, eu precisava tirar o máximo de eficiência, o máximo de resultado na minha propriedade. Então eu uni esforços, nós juntamos uma equipe técnica, criamos um programa para isso e hoje já é uma realidade. E essa realidade nós queremos levar para o Brasil todo porque os pecuaristas, em particular os pecuaristas de cria e recria, têm uma necessidade de trabalhar com protocolo específico, não só no aspecto sanitário, na questão do manejo. Nós entendemos que o manejo tem uma conotação direta com a gemelaridade, mas também de uma genética aditiva, uma genética aditiva que venha trazer resultados específicos. E para o programa gemelar, a questão genética é um elemento fundamental”, destacou.

Freitas informou que já utiliza 200 vacas de seu plantel no programa de parto gemelar e pretende continuar aumentando o desafio até que todas as suas fêmeas sejam desafiadas. A recomendação é destinar ao sistema somente vacas multíparas, conforme salientou. “Nós já chegamos a fazer ensaio com primípara, mas não recomendamos. O trabalho tem que ser com multípara. A multípara já apresenta habilidade materna, é uma vaca que comprovadamente já demonstrou as suas habilidades com a capacidade de criar bezerro”, confirmou.

Outro ponto diferenciado do manejo é estar preparado para tratar do bezerro guacho, algo que pode ocorrer em vacas que passaram pela gestação gemelar – abandonar o bezerro nascido por último. “O nosso protocolo consiste numa questão que vai além do bezerro no pé da mãe. Nós temos também dentro do nosso programa um sistema onde o bezerro, um eventual bezerro guacho que apareça no rebanho, vá para um dispositivo chamado mamatório. Nós criamos o mamatório na nossa fazenda para ser usado numa eventual demanda de leite ou de assistência a esse bezerro. É semelhante ao bezerreiro, é um tronco onde as fêmeas entram nesse sistema para receber um arraçoamento, uma suplementação alimentar, e no momento que elas estão recebendo essa suplementação alimentar, um conjunto heterogêneo de bezerros, todos provenientes do gemelar, passam a ter acesso a essas fêmeas recebendo leite na quantidade até a sua satisfação”, revelou.

“O índice de guacheamento no nosso rebanho não chega a 2%. Ele é muito baixo, ele é praticamente insignificante porque o segredo está no protocolo. Nós visitamos outros criatórios que vêm testando essa técnica e eles se ativeram a essa questão do manejo. O manejo é realmente o elemento fundamental para se implementar um programa gemelar”, acrescentou.

Como disse o produtor, as vacas são induzidas ao parto gemelar através do uso de hormônio, que incentivam a produção de oócitos que são posteriormente recolhidos e fertilizados para que voltem às matrizes na forma de embrião.

“Hoje o nosso protocolos está girando em torno de R$ 192,00 por embrião. Ele vai custar em torno de R$ 380,00 e você vai ter uma fêmea que vai parir dois bezerros. E o mais importante é o resultado. […] Quer dizer, o preço do bezerro não volta mais. É sabido agora que a tendência do preço do bezerro é aumentar. E nós pensamos na questão da gemelaridade, nós iniciamos esse programa justamente com esse propósito, de tentar compensar o número de bezerros em função da demanda. A demanda é muito forte por bezerros, então isso nos motivou”, apontou.

Aplicação da técnica para incentivo ao parto gemelar usada na Fazenda Santo Antônio, em Ji-Paraná-RO.

Freitas ponderou que a fazenda deve estar pronta para lidar com os desafios deste sistema mais intensivo de reprodução. “A nossa ênfase está justamente na questão do manejo, principalmente o manejo sanitário do pós-parto e, na sequência, esses bezerros recebendo uma suplementação a campo através do creep feeding, e ainda esse mamatório, esse dispositivo que nós desenvolvemos para que esses bezerros pudessem ter acesso (à nutrição intensiva)”, reforçou.

O pecuarista falou ainda sobre a importância do papel da escolha da genética para o sistema de parto gemelar. “Tem que ter a genética adequada. Não é qualquer genética que pode ser utilizada. Não é qualquer sêmen de touro, qualquer cobertura a campo para um programa gemelar. Essa questão da genética tem que ser muito bem estudada, muito bem programada. […] Eu tenho usado Angus com DEP de peso negativo ao nascer nas vacas Nelore e vacas Guzonel”, ilustrou Freitas.

“Outra questão de fundamental importância é a sanitária porque esses bezerros, após nascidos, a maioria, senão 100% deles, são frutos de partos precoces. Esses bezerros nascem com oito meses e dez dias, o que para nós é uma vantagem porque nós temos pelo menos 30 dias de antecedência na questão dos partos e isso num ciclo total anual é muito significativo”, complementou.

Ainda dentro da porteiro, o pecuarista interessado no incentivo parto gemelar deve ter uma equipe dedicada e comprometida com os ajustes. “Outra questão de fundamental importância está justamente na questão nutricional. O bezerro tem que comer bem. […] É essencial ter o creep feeding. Então para aqueles pecuaristas que estão nos assistindo, que querem ingressar no programa, é importante que eles tenham na sua cultura pecuária colaboradores que estejam realmente envolvidos, que estejam realmente comprometidos com a técnica para que esse programa possa dar certo. Nesse programa gemelar, a nossa recomendação é que seja feito por pecuaristas que sejam o que a gente chama de pecuarista profissional, aquele que olha a atividade como lucrativa. Para aquele pecuarista que tem a pecuária como segunda atividade e que não olha isso com ênfase, com certeza esse programa vai estar fadado ao insucesso”, advertiu.

Respondendo à dúvida de um telespectador que perguntou sobre em qual tipo de sistema produtivo para parto gemelar se encaixa, o empresário resumiu que serve para qualquer tipo de pecuária comercial, desde que o objetivo seja fazer um cruzamento terminal – ou seja, abater tanto machos quanto fêmeas porque as fêmeas não são indicadas para a reprodução por conta de uma singularidade hormonal, o dimorfismo.

“O programa está direcionado para a pecuária comercial. Em eventuais nascimentos duplos que tem um macho e uma fêmea ocorre a questão do dimorfismo. Para quem não conhece o que significa essa palavra, significa transferência de hormônios intrauterina, então essa fêmea vai ter comportamentos masculinos e o macho já tem um comportamento masculino, ou seja, esse par de animais de dupla sexualidade devem der direcionados para um programa de carne. É importante destacar isso. É possível que seja feito também um trabalho de partos duplos com animais do mesmo sexo e aí teria que se usar o sêmen sexado. Dá para fazer, nós já fizemos e tivemos um resultado nesse sentido”, contou.

Por conta de singularidade hormonal, pecuarista recomenda que bezerros frutos do parto gemelar sejam todos destinados ao corte.

Freitas respondeu também se os bezerros devem ter algum auxílio especial para mamar. “Depende da raça. O animal de origem europeia é mais proativo do que um animal de origem zebuína, mas não há necessidade de auxílio para amamentação. Nós já tivemos em nossa propriedade um caso atípico em que nasceram quatro bezerros numa única gestação e os quatro bezerros vingaram e foram desmamados a campo. Tenho registrado para quem quiser ver e conhecer”, exemplificou.

Por fim, Carlos esclareceu se o peso à desmama de bezerros de parto gemelar se igualam aos de parto singular. “É possível, com um determinado esforço nutricional, (que eles tenham o mesmo peso à desmama). Qual a diferença básica do bezerro de parto singular para o de parto gemelar? No parto singular, os bezerros nascem com peso médio de 34 a 36 kg. No caso do gemelar, o nosso peso médio ao nascimento vai de 26 a 28 kg. No entanto, a massa corporal de bezerro nascido supera 54, 55 kg de peso. Então é muito significativo. […] Apesar de esse bezerro gemelar ser fruto de um parto mais precoce, de ele ter um desenvolvimento mais lento do que o bezerro oriundo do parto singular, ao final do processo, em virtude dessa nutrição e alimentação assistida, ele chega muito próximo. Um bezerro hoje oriundo de um parto singular chega a 310, 320 kg na desmama. Nós temos a nossa média de rebanho com 280, 285 kg de bezerro desmamado aos dez meses. Essa diferença é pequena”, aprovou. A competitividade, segundo Carlos, segue até a fase da engorda, em que os animais são abatidos com 22 a 24 meses com 560 kg de média em sua fazenda.

Fonte: Canal Rural


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