Oncologista alerta sobre cuidados com a saúde e importância do diagnóstico precoce

26/11/2021 às 16:50

Autor: Redação

Apontado como a segunda doença que mais mata no Brasil, o câncer ainda assusta quem ouve falar sobre ele. O medo do diagnóstico afasta as pessoas do consultório, mas a prevenção e uma vida saudável, ainda são os melhores remédios na busca por evitar a doença. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) revelam que o Brasil terá 625 mil novos casos entre 2020 e 2022. A obesidade estará entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de 11 dos 19 tipos mais frequentes na população brasileira. Depois do câncer de pele não melanoma (177 mil casos novos), os mais incidentes serão os de mama e de próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil).

Muitos atribuem o diagnóstico a predisposição genética, mas comportamentos não saudáveis como fumar, consumir bebidas alcoólicas, sedentarismo e manter dieta pobre em vegetais também aumentam o risco para a doença. Para ampliar o conhecimento da população brasileira sobre o câncer e, principalmente, sobre a importância da prevenção, o Ministério da Saúde estabeleceu a data de 27 de novembro como Dia Nacional de Combate ao Câncer.

Na entrevista a seguir, o oncologista clínico da Oncomed, Eduardo Dicke, esclarece dúvidas em relação à doença, fala dos cuidados preventivos e sobre os avanços no tratamento.

Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam que mais de 600 mil brasileiros devem receber até o ano que vem a notícia de que estão com algum tipo da doença. Qual a importância de existir um dia de combate ao câncer no Brasil? Qual a sua avaliação da situação atual da doença no país e os esforços de combate neste contexto?

Eduardo Dicke: A data foi criada com o intuito de promover a conscientização sobre a doença por meio de campanhas que incentivam a prevenção. Existem possibilidades de prevenir muitas das doenças que tratamos com as estratégias de avaliação médica de rotina, exames preventivos e de rastreamento, campanhas de detecção precoce. E o diagnóstico precoce torna possível a oportunidade de oferecer tratamentos mais direcionados para um tumor na fase inicial, mais precisos e eficazes, com muito maior possibilidade de cura e mais qualidade de vida para o paciente.

Observamos que durante a pandemia muitos pacientes deixaram de fazer os atendimentos preventivos. Neste momento, com o avanço da vacinação, existe um cenário mais favorável, que permite que as pessoas voltem a fazer as avaliações médicas de rotina e os exames regulares preventivos.

A identificação precoce do câncer possibilita a chance de cura. Por exemplo, no caso do câncer de mama as chances de cura podem chegar a 95%, caso diagnosticado precocemente. Por que é importante manter uma rotina de cuidado com a saúde, procurando um médico regularmente, para realizar exames preventivos. O que muda com o diagnóstico precoce?

Eduardo Dicke: O diagnóstico precoce, feito a partir das avaliações médicas preventivas, pode proporcionar um tratamento, de forma geral, com melhores resultados, melhores números de remissão, controle e cura. Quando a doença é diagnosticada precocemente, os tratamentos possuem uma alta taxa de sucesso no aspecto de reabilitação e qualidade de vida para o paciente.

Uma doença descoberta em fases mais avançadas passa por tratamentos, em geral, mais complexos, de duração maior, mas que também proporcionam resultados. O foco do diagnóstico precoce é oferecer a melhor oportunidade do paciente se beneficiar dos tratamentos, que atualmente existem e que trazem melhores taxas de cura.

Hoje vivemos na Oncologia a era do tratamento personalizado, com procedimentos específicos para determinados subtipos de tumores. Também vivemos a era do tratamento genômico, em que pesquisamos características moleculares, mutações no tumor, para saber se a doença pode ser alvo de um tratamento diferenciado, com medicações de nova geração conhecidas como drogas-alvo e imunoterapia, que podem, em determinados casos trazer um resultado superior.

Estes testes moleculares, os biomarcadores, estão disponíveis para alguns tipos de tumores e orientam a escolha de tratamentos, havendo um crescente número de estudos científicos demonstrando benefício. Desta forma, eles passaram a ser adotados como conduta padronizada preferencial em alguns casos, inclusive antes da cirurgia - mesmo em tumores iniciais.

E o diagnóstico precoce neste cenário é fundamental. É como uma roupa feita por um alfaiate: um recurso que permite identificar o câncer de forma individual, o subtipo do tumor que acomete o paciente, torna o tratamento mais preciso, mais eficaz. Vamos lidar com menores taxas de complicações da doença e menor ocorrência de sintomas.

A prevenção é a chave para uma boa saúde. Quais são os cuidados que os homens devem ter para o diagnóstico precoce do câncer de próstata e também para a saúde de forma global?

Eduardo Dicke: O diagnóstico precoce do câncer de próstata pode proporcionar a detecção em uma fase da doença altamente curável. Para os tumores iniciais, os tratamentos tradicionais, como a cirurgia conhecida como prostatectomia e a radioterapia tiveram avanços. Hoje, a prostatectomia por robótica consegue trazer uma qualidade de vida melhor ao paciente e com maior sucesso em termo de menos sequelas do procedimento. Temos disponível, ainda, o tratamento com radioterapia com intensidade modulada de feixe, que também consegue proporcionar uma qualidade de vida melhor e menos efeitos adversos do tratamento.

Estes procedimentos são direcionados para a doença na fase inicial, em fase de cura, quando ela está localizada na próstata. Sobre os cuidados, a orientação é que os homens a partir dos 50 anos façam avaliação médica de rotina, sendo mais cedo a partir de 40-45anos nos casos de história familiar de câncer de próstata, e que na decisão compartilhada do médico com o paciente possa ser feito o exame de toque retal e o exame de PSA, como estratégia de tentativa de diagnóstico precoce da doença.

O câncer não tem uma causa única. Entre 80 e 90% dos casos estão associados a causas externas. As mudanças provocadas no meio ambiente pelo próprio homem, os hábitos e o comportamento podem aumentar o risco de diferentes tipos de câncer. Adotar um estilo de vida saudável faz diferença na prevenção do câncer? Quais hábitos devemos seguir para prevenir a doença?

Eduardo Dicke: A estratégia de estimular hábitos saudáveis de vida é recomendada no mundo inteiro. Isto é de fundamental importância. Pelo menos metade dos tumores está relacionada ao estilo de vida. Sabemos que uma dieta desregrada, com elevado consumo de enlatados, embutidos e gorduras, obesidade, falta de atividade física, exposição ao tabagismo e consumo exagerado de bebida alcoólica estão associados ao risco aumentado de tumores. São dados endossados pelo Instituo Nacional do Câncer (Inca) e pelo Instituto Americano de Pesquisa contra o Câncer. Para se ter uma ideia, existe evidência que o peso da dieta desregrada pode ser tão forte no surgimento do câncer quanto o tabagismo.

Então, em muitos países, as campanhas de estímulo às atividades físicas e aos bons hábitos nutricionais são importantes para prevenção de saúde e em relação à prevenção de câncer. Estas estratégias são válidas no contexto da população em geral, como também na reabilitação dos pacientes que já trataram. Em muitos tumores, a manutenção de um peso dentro de uma faixa ideal, com bons hábitos alimentares e prática de atividades físicas, estão associados a menos chances de reincidir o câncer e maior possibilidade de cura.

O câncer é a doença que mais mata crianças e adolescentes no Brasil, superado somente pelos acidentes e mortes violentas. Existe uma estratégia vacinal para ser utilizada a partir da infância com o intuito da prevenção do câncer?

Eduardo Dicke: As estratégias vacinais, como as vacinas para Hepatite B e para o HPV (Papilomavírus Humano), são de importância fundamental para a prevenção do câncer. O vírus da Hepatite B está associado ao risco aumentado de tumores no fígado. A infecção pelo vírus HPV, cuja forma mais comum de transmissão é pela atividade sexual, está associada ao risco de câncer de colo uterino e a outros tumores anogenitais.

A estratégia vacinal está associada a um fator de proteção. São vacinas disponíveis tanto na rede pública como na rede privada. Elas são padronizadas, incorporadas ao calendário vacinal do Mistério da Saúde (MS) e consistem em estratégias eficazes para a prevenção do câncer. É importante destacar que a vacina para Hepatite B deve ser recomendada em todas as faixas etárias, sendo utilizada a partir da infância.  Já a vacina contra o HPV é direcionada à faixa vacinal de 9 a 14 anos, tanto para meninas como para meninos.

A vacina para o HPV é cercada de preconceitos, infelizmente, mas é uma estratégia muito importante e eficaz para prevenção de uma doença que ainda hoje, infelizmente, em todo o mundo, é um grave problema de saúde: o câncer de colo uterino. A imunização contra o HPV pode trazer um cenário em que o câncer de colo uterino seja erradicado no futuro.

O câncer ainda é um grande tabu. Muitas pessoas não gostam nem ouvir a palavra, muito menos se informar sobre a doença e acabam “fugindo” do médico com medo do diagnóstico.  Como a imagem ligada a morte e ao sofrimento se torna um obstáculo para o enfrentamento do câncer?

Eduardo Dicke: Apesar de ser uma notícia que comove e assusta o paciente, conseguimos mostrar que existe um caminho com seriedade, responsabilidade e humanização.  Uma boa forma de motivar a esperança é observando pessoas que se trataram e estão bem. Então, a mensagem para o paciente é acreditar. O amparo de uma rede apoio e da família é fundamental. Buscar se informar e fortalecer o relacionamento com a equipe multidisciplinar é, também, muito importante. Os profissionais da área da saúde em Oncologia são talentos que se dedicam a proporcionar um tratamento digno, responsável e humanizado, refletindo em uma melhora da qualidade de vida.

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